Uma Criança em Perigo (Hayden, 2008)
[SPOILERS]
Torey é uma especialista em ensino especial que escreve livros a contar histórias de crianças com quem já trabalhou. Para mim, normalmente, os seus livros têm um clima envolvente que, apesar de perturbador em certos aspectos, o amor e a empatia para com as personagens desponta e habita todo o livro, deixando-me de certa forma encantada com elas (as crianças com perturbações mentais).
Torey é uma especialista em ensino especial que escreve livros a contar histórias de crianças com quem já trabalhou. Para mim, normalmente, os seus livros têm um clima envolvente que, apesar de perturbador em certos aspectos, o amor e a empatia para com as personagens desponta e habita todo o livro, deixando-me de certa forma encantada com elas (as crianças com perturbações mentais).
Porém, neste livro há algo de
diferente. Apesar de haver essa empatia, e a alegria pelas pequenas
progressões, este livro tem um crescendo do clima perturbador. Há uma atmosfera
de medo que a criança, Jadie, sente, e passa tanto para Torey como para o
leitor.
Para além de habitar a recordação
da ex-professora daquela turma, que se suicidou, a criança protagonista,
conforme se vai afeiçoando a Torey, revela-lhe cenas atrozes que supostamente
vivenciou. Quando no início se pensa nesses eventos como invenção pura, ao
longo do livro a tensão cresce, pois surgem sinais de que a menina sofreu algo
real. Mas terá mesmo presenciado aquilo que diz? Ou será imaginação
influenciada pelos filmes e programas de televisão?
A certa altura ocorre a Torey
relacionar estes eventos com seitas satânicas. O símbolo da cruz dentro de um
círculo vai surgindo durante a história e remetendo para uma seita satânica. Os
relatos assustadores, violentos, vão deixando cada vez mais presente uma aura
obscura que envolve mitos e magia negra praticada por seitas, o tipo de assunto
que sozinho no escuro assusta qualquer pessoa, mesmo que não acredite.
O pior de tudo isto é saber que
esta é uma história real. Não posso aconselhar este livro a crianças, e quanto
a adultos, também não sei o que dizer. Até se podia dizer que, até certo ponto,
é um livro de terror, pois é cada vez mais perturbador. No entanto, é uma história
sobre uma criança real, que Torey tenta entender até que ponto é real.
Neste livro Torey consegue com a
sua mestria, não de escrita, mas de amor, envolver-nos com as personagens.
Desta vez claramente que Jadie é a personagem principal, apesar da envolvência
das outras crianças da turma. O mistério e a confusão povoam todo o livro,
Torey não encontra uma solução mas também não inventa uma para o leitor ficar
satisfeito.
Oferecendo uma narrativa e
truques de escrita a uma vida de uma criança, Torey escreve um livro diferente
dos outros que deixa alguma preocupação para com crianças nunca nomeadas nem
conhecidas nem encontradas. Não é um caso de total sucesso. Mas faz-nos
entender um pouco o que se vai passando, por vezes, com crianças com
perturbações mentais, por terem sofrido tanto na vida.
É a quem quer conhecer estas
histórias por lhes ter amor que posso aconselhar o livro. Também a quem quiser
saber como lidar com pequenos que tenham problemas psicológicos. Mas que a isto
se conjugue a vontade de ler um livro um pouco mais preocupante, por envolver
terceiros nunca encontrados e traumas pouco concretos. Confesso que por esta
última parte não era bem o tipo de livro que me estava a apetecer. Não estava à
espera de tanto ocultismo – é um tipo de perturbação diferente do autismo, de
abusos sexuais, de outros tipos de trauma. É a isto que chamo a atenção, para
quem gostar destes livros, saber o que lhe espera.
Na verdade, sobre aquilo que
podem esperar, digo mais uma coisa: agradou-me bastante que neste livro Torey
não tenha tido nenhum relacionamento amoroso. Para mim sempre foram as partes
chatas e previsíveis – são quase sempre a mesma história… neste caso, visto que
não há homens com esse papel, o livro foca-se mais nas crianças, o que é um
grande ponto a seu favor.
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