10 Items or Less (2006): a beleza de descobrir alguém

10 Items or Less (No Máximo 10) é um filme de comédia que segue, essencialmente, uma personagem e a sua relação com a vida e o mundo. Morgan Freeman é esse protagonista desta ficção, mas interpreta-se a si próprio. Assim, esta é uma meta-reflexão em forma de comédia, mas providencia também um ponto de vista interessante sobre o trabalho do actor na construção de uma personagem.

Nem toda a gente se poderá relacionar com esta relação de à-vontade com toda e qualquer pessoa com quem Morgan Freeman se encontra, mas certamente apreciará e reconhecerá a situação de conhecer uma pessoa e descobrir os seus gostos, as suas histórias e a sua personalidade.
Esta é uma jornada por vários caminhos: de descoberta de amizades fugazes, sem nunca ancorar em nenhum; de abertura do véu para o mundo do teatro, conhecendo com simplicidade e graça um processo de criação de personagem. E tem o condão de fazê-lo com calma: todo o filme passa no decorrer de um dia e, não se apressando, também não se torna entendiante, pois é realista, engraçado e não é, de longe, pretensioso.



No aspecto cinematográfico também reflecte essa calma do quotidiano, destacando-se positivamente em certas cenas, como as do interior e do exterior do carro, em viagem; estas não só encantam pelo ritmo da passagem da paisagem e da estrada, e da passagem do tempo orgânica, como do ponto de vista do argumento. Este, por sua vez, revela-se interessante por ser muito genuíno. São conversas que soam a genuínas e espontâneas, embora não sejam, muitas vezes, facilmente relacionáveis com o dia-a-dia do cidadão comum, devido ao à-vontade exagerado do actor com as outras personagens; no entanto, enquadram-se pelo contexto quase biográfico do filme.

As personagens são também interessantes, destacando-se a da actriz principal, X. Ao contrário de Morgan Freeman, que fecha algumas portas da sua vida, mostrando praticamente apenas uma faceta positiva e descontraída de si, esta personagem tem um carácter mais humano. Ela  revela com mais compleição a personagem: na sua personalidade, os seus problemas e desafios, as suas fraquezas, mas também os seus dons e aspectos mais positivos; e a actriz envolve o espectador num realismo mais fácil de relatar. É, no entanto, compreensível, visto que Scarlet é ficcionada, mas Morgan Freeman é alguém real.

No fundo, no entanto, todo este filme se pode apreciar pela curiosidade de conhecer ou rever o mundo do teatro e do cinema, especificamente do papel do actor. É um interessante caso de estudo sobre a criação de personagens, passando fugazmente por esse mundo de ir pegando em aspectos fugazes de cada desconhecido, tornando-o conhecido e querido à primeira vista pela imaginação e análise.

Este é, então, um filme engraçado, simples, que mistura a ficção com a não-ficção discretamente; e, embora não envolva especialmente o espectador emocionalmente ou em grandes reflexões – embora as tenha, superficialmente, ao longo do filme – deixa uma sensação de paz e compreensão, além de ser uma oportunidade de conhecer um pouco quem é Morgan Freeman de uma forma diferente do comum; e lembra que as pessoas que estamos sempre a um passo de descobrir as pessoas com quem nos cruzamos (ou as personagens que criamos): basta querer.

6,5/10


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