Spaghettiman



Na minha busca por filmes que incluíssem esparguete, surgiu-me aquele em que esse alimento será a personagem principal, e que me abriu o apetite. Spaghettiman, o homem-esparguete, é uma comédia e sátira dos filmes de super heróis que me agrada, até a mim, que detesto filmes de super-heróis.

Toda a jornada do herói se enquadra nos padrões dos típicos protagonistas do cinema do Marvel (ou da DC). É ele um jovem adulto, perdido na vida, desempregado. No entanto, a sua vida é transformada quando um objecto radioactivo - uma taça de esparguete -, pelo início do filme, faz as honras de lhe transformar a vida de pernas para o ar. Ou, neste caso do ar para as pernas. É que esta reviravolta acaba por dar-lhe uma oportunidade de recomeçar. Afinal, esta sátira passa por ridicularizar também o conceito de herói, visto que este desempregado é, como os twentysomethings desta década, alguém que precisa apenas de se alimentar e ganhar a vida.

Assim, em vez do típico herói com ideais moralmente altruístas, temos um 'super-homem' que se recusa a fazer boas acções só porque sim: tem de ser pago por elas; até cria um negócio de freelancer dedicado ao uso dos seus poderes. O seu grande amigo, que apenas sonha com fazer o bem, sem olhar a quem, e sem olhar ao peso da carteira, é uma sátira de alguém cheio de boas intenções e de coração puro, mas que acaba por ridicularizar-se a si mesmo, enquanto que os outros triunfam à sua volta.

O filme ganha muito pela história que é, porque todo o enredo é propositadamente ridículo, só pela adição do esparguete como elemento sobrenatural. É também muito actual e típico da geração dos twenty-somethings desta década, em que, à falta de emprego, tudo tem um preço: o que é um ponto a favor que faz um certo público identificar-se com a personagem.

Certo é, também, que o filme está bem realizado, sendo fluido na maior parte das vezes, e, se tem cenas ridículas feitas sem querer, enquadram-se porque são propositadas.
Daquilo que me pareceu, não pretende ter nenhuma mensagem transformadora do mundo. A mensagem mais importante que tem é actualizar um super-herói ao tempo actual, sem 'efeitos especiais' de enredo. O mesmo se passa com os vilões, que se mostram à altura e que, como todos os vilões, é o seu narcisismo que os enfraquece e nos dá umas boas gargalhadas.

O filme também não é demasiado grande, mesmo sendo um filme de acção, o que o coloca desde já num patamar acima da maioria da concorrência. E, sabendo gozar até consigo mesmo, acaba por não sofrer dos defeitos mais comuns dos outros filmes.
No entanto, embora as cenas de acção e de luta sejam mais reduzidas que em outros filmes de super-heróis, e embora tenham um sentido de comédia satírica, ainda assim foram exageradas para o meu gosto; mas imagino que, para quem goste de filmes de acção, talvez até sejam demasiado reduzidas.

Ainda por cima, sendo uma produção de low-budget, é preciso louvar o resultado. Não é uma obra de arte que nos deixe a pensar na vida, mas também julgo que não era esse o objectivo. É um  filme de entretenimento razoavelmente bom, que tem valor estético, está bem escrito e, em todo o surrealismo, tem também muita graça. E até acaba por abrir o apetite para mais... esparguete.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Flipped: Um filme que nos troca as expectativas e dá um todo maior que as partes

10 Items or Less (2006): a beleza de descobrir alguém