Sweet and Lowdown (Woody Allen, 1999)
Wanna go watch some trains? Emmet é um guitarrista de jazz, ficcionado, que tem uma personalidade muito própria. Certas características suas são surreais ao ponto de torná-lo uma pessoa bastante cómica. No seu narcisismo inegável, faz viagens pelo mundo com a sua banda. Conhece mulheres a quem não se quer apegar, pois o facto de ser um génio na música faz-lhe querer dedicar-se apenas a isso.
O filme
é feito como se fosse um documentário. Enganou-me bem, porque não investiguei
muito sobre ele antes de o ver. Estava bastante engraçado, satirizando as
personagens, principalmente de Emmet e das mulheres que ele teve. Entre um
leque de punchlines que se ia repetindo ao longo do filme, sempre cómicos,
mostrava-se a mania de Emmet por ver os comboios passar, assim como de matar
ratazanas a tiro. Esta sua ideia de diversão estava muito genuína, sendo que
quando ele conhecia uma mulher queria partilhar isto com ela, o que era ao
mesmo tempo bastante cómico e querido.
Sean
Penn teve uma prestação incrível, muito genuína. A conexão com ele foi quase
imediata. Apesar de ser egoísta, não havia grande hipótese de recriminar Emmet,
pois era uma faceta desculpável pelo surrealismo e pela comicidade que esta
tinha. Foi uma prestação mesmo bastante boa.
Também
Hattie, a segunda personagem mais importante do filme, foi interessante. O
conhecimento que tínhamos sobre ela ia sendo desenvolvido ao longo do filme, não
sendo tudo revelado imediatamente. Cómica, por vezes, e sempre expressiva, foi
uma personagem que poderia ter sido bastante mal usada, mas que teve uma boa
actuação e presença no filme. Também genuína, ficou marcada pelos bons motivos.
A
terceira personagem que vou mencionar foi a mais irónica de todas, com um
carácter random, oportunista. Blanche revelou-se muito engraçada, sempre,
também com uma frase inónica para si. Enquanto escritora oportunista, sempre
que tinha hipótese de perguntar “What do you feel when…” nas mais variadas
ocasiões.
A
personagem principal do filme, ainda assim, foi a música. O guitarrista que
tocou a banda sonora do filme ensinou Sean Penn a tocar guitarra para a sua
actuação. Ele, sim, poderia ser o melhor guitarrista do mundo – except for that
gipsy in France – e que eu admirei. Visto que, no entanto, Emmet é uma
personagem ficcionada, a curiosidade ficou para conhecer a discografia do
famoso guitarrista Django. Com tantas menções ao longo do filme, foi uma forma
sui-géneris de fazer-lhe uma homenagem, mas foi uma forma boa, e engraçada.
Apesar
de tudo, penso que a música teve um papel ingrato. A edição/produção do filme
fazia constamente mudanças de cena em que a música era interrompida
subitamente. Foi uma atitude ruim, na minha opinião, e que me aborreceu muitas
vezes durante o filme, por cortar o clima. Mesmo que a música não fosse
simplesmente música de fundo, deveria ter sido interrompida de outras formas,
ou então, terminada, sem deixar a sensação de faltar o resto.
A pequenas
cenas que simulavam o aspecto de documentário também foram anti-clímax. Para o
efeito de simular documentário, foi uma ideia interessante. No entanto, para
mim, geralmente, um bom documentário não apresentaria estas narrações desta
forma. É o outro aspecto negativo que encontrei no filme.
De
resto, foi um bom filme. Poucos filmes há de comédia aos quais eu ache muita
graça, mas este foi incrível, conciliando essa graça com muitas outras
qualidade técnicas e narrativas, e claro, de actuação. A história é muito
interessante e tem um desenvolvimento envolvente, mostrando várias episódios,
separados, da vida de Emmet, mas com uma sequência como se fosse interligada.
O
episódio da estação de serviço foi bem feito, ao mostrar as várias versões por
que a história era “conhecida”. Todas as versões tiveram a sua genialidade, à
sua maneira, mas a que incluiu o Django foi um bom climax das cenas.
Bom
filme! E aconselho.
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